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Memórias conflituosas: relatos sobre a ditadura no Brasil
Alessandra Gasparotto e Selma Martins Duarte.
Ementa: O presente mini-curso apresenta e problematiza a produção memorialística referente ao período ditatorial brasileiro. Ao longo dos últimos anos, tal produção foi enriquecida, na medida em que militares, militantes de organizações de esquerda, políticos, artistas, jornalistas e outros atores sociais deixaram seus depoimentos. Estas obras de memória e os testemunhos orais são bastante significativos para a compreensão do regime civil-militar instaurado no país após o Golpe de 1964, constituindo-se simultaneamente como fonte e objeto de estudo do historiador. Neste sentido, ao longo do mini-curso, buscaremos apresentar alguns elementos presentes em tais obras, com especial ênfase àquelas produzidos por militares e militantes da resistência à ditadura.
Justificativa e Objetivos: A memória constitui-se como importante fonte para o estudo da História recente do Brasil. No estudo do presente deparamo-nos, por vezes, com problemas referentes a curta temporalidade que distancia o objeto de estudo (neste caso a memória sobre a ditadura civil-militar) dos sujeitos que vivenciaram o processo e as narram no presente. Mesmo ocorrido mais de duas décadas do final da ditadura, é polêmico tratar do período, pois estas pessoas ainda no presente compartilham de sentimentos e posicionamentos em relação ao passado. Desse posicionamento emergem muitas memórias e são perceptíveis ao pesquisador os conflitos ideológicos que estão presentes nesses discursos sobre o passado; desta forma, o embate por diferentes “verdades” é travado no presente, com o intuito de “controle do passado. Portanto, uma questão de poder” (SÁ, 2004, p. 10).
Há uma produção significativa de relatos de memória sobre a ditadura civil-militar, em forma de livros, entrevistas, documentários e artigos. A problematização destas memórias possibilitam compreender o papel de diferentes atores sociais do período, e preencher lacunas que ainda restam sobre nosso passado recente, principalmente diante da impossibilidade do acesso a documentos sobre o período que ainda são considerados confidencias pelo Estado. Neste sentido, propomos uma análise sobre a produção de memórias de militantes de esquerda, de militares, entre outras memórias sobre a ditadura. Também é objetivo deste mini-curso refletir sobre as contribuições dos relatos de memória como fonte e como objeto de estudo para a história. Nesse sentido, busca-se através deste trabalho pensar como estas memórias estão presentes nas discussões que remetem à ditadura, principalmente em relação a questões como a tortura, as indenizações e o reconhecimento por parte do Estado brasileiro de suas responsabilidades na repressão e morte de opositores políticos. Procura-se discutir sobre tais testemunhos, refletindo sobre o momento em que foram elaborados e sobre seus limites e possibilidades para a construção do conhecimento histórico.
Metodologia do curso com cronograma das aulas: O Mini-Curso será desenvolvido através de apresentações expositivas-dialogadas, da análise de excertos de livros de memória e entrevistas de história oral produzidos sobre o período e da projeção de trechos de documentários com depoimentos de militantes de esquerda e de militares.
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Memórias, narrativas e música popular: possibilidades metodológicas para a análise de processos de deslocamentos e migratórios
Geni Rosa Duarte e Emilio Gonzalez
Ementa: O curso buscará abordar a música popular enquanto possibilidade narrativa para a compreensão de processos migratórios e deslocamentos múltiplos. Entendemos que a produção musical, notadamente a popular, constitui um importante elemento através do qual é possível perceber, avaliar e refletir acerca de processos migratórios e deslocamentos, seja pelo deslocamento de populações, ou dos próprios músicos, seja por conta de episódios como exílios, por exemplo.
Objetivos e Justificativa: Em geral, as possibilidades de trabalho com fontes musicais, notadamente aquela de origem popular, despertam desconfiança entre pesquisadores e profissionais de educação em História. Enquanto, de um lado, pesquisadores dedicam seu tempo buscando um pretenso “purismo” na musica popular, de outro, professores, temerosos ante a suposta “ingenuidade” dessas narrativas, restringem-se a sua utilização apenas enquanto “complemento” de outras fontes, mais “confiáveis”, como as de origem bibliográficas, fílmicas, imprensa, narrativas orais, entre outras. A análise assim realizada geralmente se restringe apenas às letras em si, e aos arranjos “originais”, recusando-se toda forma de inovação ou “re-atualização” que a musica possa vir a sofrer, como alterações na letra, na estrutura melódica e instrumental, nos arranjos vocais, etc. Aqui, a musica é “autorizada” apenas enquanto documento “original” (irretocável, do passado) ou como “complemento” de outras fontes, mais precisas e confiáveis. Com efeito, observa-se muitas vezes não apenas uma análise atemporal da letra e, quando muito, da própria história de vida de seu compositor, como se essa própria trajetória não sofresse modificações com o passar do tempo.
Distante destas perspectivas de análise, a presente proposta buscará problematizar a música popular como um campo de disputa de memória em si mesma, na qual cada arranjo diferente, novo instrumento inserido ou suprimido, regravação e arranjos vocais e melódicos indicam também mudanças e movimento. Isso porque a musica popular cristaliza noções de mundo de um determinado grupo ou época, assim como permite perceber a maneira como as memórias são reelaboradas e re-lidas de época em época, demonstrando a temporalidade da memória e o peso da experiência social como elemento primeiro na construção das narrativas.
Metodologia: Especificamente, o curso irá tratar de musicas que indicam processos migratórios, apontando tanto os embates presentes enquanto “letra” (texto), como também aquelas disputas operadas a partir dos novos arranjos e regravações, estes também, prenhes de historicidade e portador da experiência social de seus sujeitos produtores. A análise da maneira como a musica “narra” processos migratórios, assim como a compreensão de que os diferentes arranjos e experimentalismos inseridos também indicam e demarcam a passagens dos artistas e compositores por diferentes lugares e experiências de trabalho, estarão presentes no curso, que ainda pretende discutir possibilidades de trabalho com música em sala de aula.
O curso se desenvolverá em seis horas, ou seja, em três sessões. Não exclusivamente (porque nem sempre podemos encontrar composições que tratam apenas e tão somente de uma dessas temáticas), abordaremos a) a narrativa das migrações e deslocamentos, seja na direção cidade/campo, seja regional ou nacional; b) narrativas nas quais migrações e deslocamentos ficam implícitas; c) narrativas definindo diferenças e distanciamentos.
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História oral na História
Pablo Alexandro Pozzi e Robson Laverdi
Ementa: A utilização de testemunhos orais para reconstruir o passado é um recurso tão antigo como a História mesma. A história oral, seja ela compreendida como especialidade dentro do campo historiográfico ou uma técnica específica de investigação contemporânea a serviço de várias disciplinas, é um produto do século XX que enriqueceu substancialmente o conhecimento da história contemporânea, incorporando a subjetividade às analises dos processos históricos. Seja uma revalorização das fontes orais frente ao império do “escrito”, que permite uma comunicação mais fluída entre historiadores e outros cientistas sociais, ou a aposta por uma história mais democrática, o certo que é que a história oral é hoje assumida como uma especialidade hoje reconhecida mundialmente que nos existe uma maior reflexividade e trabalho interdisciplinar, por sua vez supondo novos desafios ao exercício da pesquisa, da docência e da ação comunitária. A proposta se inscreve para discutir os termos qualitativos de sua contribuição, assim como oferecer conhecimentos temáticos e domínio de operações metodológicas específicas da história oral necessárias para incorporação de análises da subjetividade nos processos históricos.
Justificativa e objetivos:
A oferta do minicurso decorre da preocupação em discutir a contribuição da história oral como incorporação da subjetividade na investigação histórica. A despeito da maior visibilidade e expansão de sua prática na contemporaneidade, compreende-se a necessidade discutir caminhos e possibilidades metodológicas de seu emprego no campo de atuação do historiador.
Objetivos: Instruir sobre os métodos da história oral; Capacitar para realizar entrevistas e aplicar história oral; Compreender a importância de incorporação da subjetividade nos estudos históricos por meio da história oral.
Metodologia do curso: O minicurso será ministrado em dois módulos através de aulas expositivas e dialogadas, mediadas por experiências de pesquisa com história oral dos professores ministrantes.
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